Pensar muito emagrece?
O cérebro queima em um dia as mesmas calorias que correr meia hora
Fazer as contas dos gastos do mês queima a mesma quantidade que resolver uma equação de terceiro grau? E quanto influi o tamanho do cérebro?
Pensar cansa! Já passou longos momentos trabalhando diante de um computador e estudou durante horas? Ou planejou os detalhes da reforma de sua casa e ao final sentiu-se extremamente cansado, como se estivesse saindo fumacinha do seu cérebro?
Será que pensar é tão cansativo (sem praticamente sair do lugar) igual a andar meia hora na esteira e correr 30 minutos a uma velocidade de 8,5 km/h ou dançar até cair em uma pista de dança? E mais: serão queimadas as mesmas calorias (tomando como referência um adulto com um cérebro de peso médio, 1.400 gramas, e 70 quilos). Ou seja, pensar queima calorias. Então, vamos entender um pouco.
Como funciona nosso cérebro no trabalho mental e físico?
O cérebro humano representa, aproximadamente, 2% do peso corporal, e consome 20% do oxigênio e da glicose do organismo. Em estado basal, o cérebro pode consumir 350 calorias em 24 horas, isso é, 20% do que costumamos gastar por dia, um gasto calórico que é comparável ao das atividades físicas citadas anteriormente, de acordo com as tabelas da Universidade de Harvard.
Todos os processos fisiológicos precisam de energia, mas o cérebro é o órgão que mais consome energia e além disso está continuamente funcionando, mesmo durante a noite, o que justifica seu grande gasto energético. No cérebro, se presume que a massa cinzenta (onde estão os núcleos neuronais) consome mais energia do que a massa branca (cuja função principal é a de transmitir a informação) e isso se deve, entre outros fatores, à grande quantidade de sinapses e mitocôndrias da massa cinzenta, junto com o fato de que a massa branca é, pela maneira como está constituída, mais eficiente e econômica.
Mas o consumo energético é variável. Quando está em modo normal, como quando caminhamos pela rua pensando em nossas coisas, talvez o consumo seja menor, no sentido de que nenhuma área do cérebro está mais ativa do que outras. Mas se de repente começamos a resolver um problema, uma determinada região é ativada e passa a gastar mais combustível. É como um carro que está ao relento e quando começa a andar dispara o consumo de combustível. O gasto energético do cérebro é medido pela quantidade de irrigação sanguínea cerebral (oxigênio no sangue) e utilizando ressonância magnética funcional.
Uma hora de intenso trabalho intelectual consome praticamente a mesma energia que uma hora de trabalho físico intenso, e, se a atividade intelectual também é prolongada ao longo do tempo, com o acréscimo de estresse (a famosa pressão do chefe para terminar a tarefa já!), gastamos mais energia.
Na teoria, e dada a eterna controvérsia entre a existência de um cérebro feminino e um masculino, há diferenças entre os sexos em termos de gasto energético cerebral?
Uma revisão de milhares de escaneamentos realizados por pesquisadores da Universidade de Edimburgo não encontrou tal diferença, mas um tamanho maior para o cérebro dos homens. Ambos sexos têm os mesmos consumos calóricos cerebrais e, de todo modo, talvez se pudessem estabelecer certas diferenças de tamanho (o da mulher possui cerca de 100 gramas menos).
Uma hipotética diferença entre homens e mulheres no consumo de energia cerebral poderia ser resultante das “variações dos níveis hormonais associados ao ciclo feminino”. De toda forma, o consumo de energia depende mais das tarefas que o cérebro executa do que de outros fatores, e um tamanho maior do cérebro masculino não significa que ele será mais eficiente, mas pode ser mais ligado a fatores evolutivos relacionados à aspectos como a atividade muscular necessária para realizar um trabalho pesado.
O cérebro devora glicose, mas pensar não causa perda de peso!
O combustível do cérebro é a glicose, da qual se obtém o ATP (trifosfato de adenosina) necessário para realizar todos os processos metabólicos. Um cérebro adulto consome cerca de 5,6 miligramas de glicose para cada 100 gramas de tecido cerebral por minuto.
No entanto, agora que o açúcar está na mira, poderíamos deduzir que ficar sem ele pode afetar o rendimento do cérebro. Uma hipótese que levantamos é se o cérebro precisa de açúcar para funcionar, por que temos de parar de comê-lo? É que os pesquisadores descartam fortemente. A glicose e o ATP podem ser obtidos de várias maneiras, embora o açúcar seja a mais simples, tanto que sua extração é muito mais eficiente. O açúcar não é apenas aquele que se ingere diretamente na dieta, mas também o obtido na ingestão de outros carboidratos. O que é verdade é que, sem qualquer tipo de carboidrato no organismo, não poderíamos sobreviver.
Uma vez confirmado que o cérebro queima calorias a pergunta é: pensar emagrece? Logicamente, a resposta seria afirmativa (seguindo o silogismo: pensar queima calorias e queimar calorias emagrece: logo, pensar emagrece). Mas não é assim. Claramente, pensar não emagrece, talvez pensar enquanto se caminha com vigor ou durante os exercícios físicos…
Flávia Valadares – Neurocientista Fundadora da Escola PraticaMente