Estímulo na infância é chave para o desenvolvimento do cérebro
Uma infância cercada por livros, brinquedos e brincadeiras educativas deixará impressões positivas no cérebro de uma pessoa até o final da adolescência, mostrou uma pesquisa de duas décadas.
Os cientistas descobriram que, quanto mais estímulo mental uma criança recebe por volta dos 4 anos de idade, mais desenvolvidas serão as partes de seus cérebros dedicadas à linguagem e à cognição nas próximas décadas.
Martha Farah, diretora do Centro de Neurociência e Sociedade da Universidade da Pensilvânia, que liderou o último estudo, queria descobrir como uma gama normal de experiências na infância pode influenciar o desenvolvimento do cérebro. Farah pegou dados de pesquisas sobre a vida em casa e exames cerebrais de 64 participantes realizados ao longo de 20 anos. Seus resultados, apresentados na reunião anual da Society for Neuroscience em Nova Orleans, mostraram que a estimulação cognitiva dos pais aos 4 anos de idade foi o fator-chave na previsão do desenvolvimento de várias partes do córtex – a camada de substância cinzenta – 15 anos depois.
Os resultados mostraram que o desenvolvimento do córtex no final da adolescência estava intimamente correlacionado com a estimulação cognitiva de uma criança aos 4 anos. Há existência de um período sensível, no início da vida de uma pessoa, que determinou o desenvolvimento ideal do córtex. Isso realmente apoia a ideia de que esses primeiros anos são especialmente influentes.
À medida que o cérebro amadurece durante a infância e a adolescência, as células cerebrais do córtex são removidas e, à medida que células “desnecessárias” são eliminadas, o córtex fica mais fino. Quanto mais estimulação cognitiva uma criança tem por volta dos seus 4 anos de idade, mais fino e, portanto, mais desenvolvido seu córtex será. A região mais fortemente afetada na estimulação cognitiva precoce é o córtex temporal lateral esquerdo, que está atrás da orelha. Essa região está envolvida na memória semântica, processando significados de palavras e conhecimento geral sobre o mundo.
Andrea Danese, professora clínica de psiquiatria infantil e adolescente no Instituto de Psiquiatria do King’s College London, disse que o estudo sugere que a experiência de um ambiente familiar poderia afetar o desenvolvimento do cérebro independentemente de predisposições familiares, talvez genéticas, para cérebros mais eficientes. Danese acrescentou que esse tipo de pesquisa destaca o “tremendo papel” que os pais e responsáveis têm para desempenhar e permitir que as crianças desenvolvam suas habilidades cognitivas, sociais e emocionais, proporcionando interações pessoais seguras e um cérebro altamente eficaz.
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Flávia Valadares – Neurocientista e Psicopedagoga da Escola PraticaMente