Todos pensamos melhor quando estamos bem descansados. Um cérebro alerta nos permite focar, aprender, lembrar de informações e ser criativo. Por outro lado, quando estamos com sono, cometemos mais erros e somos menos produtivos na escola e no trabalho. Não é nenhum segredo que uma boa noite de sono faz você se sentir melhor. O sono dá tempo ao seu corpo para descansar e recarregar, como também pode ser crucial para a capacidade do cérebro de aprender e lembrar.

Durante o sono, enquanto seu corpo descansa, seu cérebro está ocupado processando informações do dia e formando memórias. Sem sono adequado, seu  cérebro fica embaçado, seu julgamento é insatisfatório e suas habilidades motoras são prejudicadas. O sono desencadeia mudanças no cérebro que solidificam as memórias – fortalecendo as conexões entre as células cerebrais e transferindo informações de uma região do cérebro para outra.

Sono, aprendizado e memória são fenômenos complexos que não são totalmente compreendidos. No entanto, estudos sugerem que a quantidade e a qualidade do sono têm um impacto profundo na aprendizagem e na memória.  O sono ajuda a aprendizagem e a memória de duas maneiras distintas. Primeiro, uma pessoa privada de sono não pode concentrar a atenção de maneira ideal e, portanto, não pode aprender com eficiência. Em segundo lugar, o sono em si tem um papel na consolidação da memória, essencial para o aprendizado de novas informações.

Existem diferentes tipos de memórias. Alguns são baseados em fatos, como lembrar o nome das capitais dos estados. Alguns são episódicos – baseados em eventos da sua vida, como o seu primeiro beijo. Outras memórias são processuais ou instrutivas, como andar de bicicleta ou tocar violão. Embora os mecanismos exatos não sejam conhecidos, aprendizado e memória são frequentemente classificados em três funções: aquisição – refere-se à introdução de novas informações no cérebro; consolidação – representa os processos pelos quais uma memória se torna estável; recuperação – refere-se à capacidade de acessar as informações (consciente ou inconscientemente) depois de armazenadas. Cada uma dessas etapas é necessária para a função de memória.

Outro aspecto importante para destacar é o impacto da privação do sono na aprendizagem e no desempenho do cérebro. Quando estamos privados de sono, nosso foco, atenção e vigilância se dispersam, dificultando o recebimento de informações. Sem sono e descanso adequados, os neurônios sobrecarregados não podem mais funcionar para coordenar informações adequadamente e perdemos nossa capacidade de acessar informações aprendidas anteriormente.

Além disso, nossa interpretação dos eventos pode ser afetada. Perdemos nossa capacidade de tomar decisões corretas porque não podemos mais avaliar com precisão a situação, planejar adequadamente e escolher o comportamento correto.

Estar cronicamente cansado ao ponto da fadiga ou exaustão significa que estamos menos propensos a ter um bom desempenho. Os neurônios não disparam de forma otimizada, os músculos não estão descansados ​​e os sistemas orgânicos do corpo não estão sincronizados. Lapsos decorrentes da privação do sono podem até resultar em acidentes ou ferimentos em diversas situações como, por exemplo, ao dirigir.

O sono de baixa qualidade e a privação do sono também afetam negativamente o humor, o que traz consequências para o aprendizado. Alterações no humor diminuem nossa capacidade de adquirir novas informações e, posteriormente, de lembrar essas informações. Embora a privação crônica de sono afete indivíduos diferentes de várias formas (e os efeitos não são totalmente conhecidos), fica claro que uma boa noite de sono tem um forte impacto sobre a aprendizagem e a memória.

O sono é uma necessidade biológica – precisamos disso para sobreviver. Certamente não é improdutivo passar um terço da vida dormindo. O sono é seu amigo. Então, quando se trata de aprendizado e memória, durma bem.

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Flávia Valadares – Neurocientista e Psicopedagoga da Escola PraticaMente